Sunday, October 30, 2005

correteando...

A vida corre
Corre corre vida corre
Sem cor
Corre vida corre
Ave...
Arre...
Porre pra fazer a vida correr.

O agora

Um texto e todos os pontos. Colocações corretas, inferências cabíveis, figuras louváveis. Uma vida e todos os meios. Horizonte longínquo, caminho baço, quedas.

Metamorfose

Secar
Livrar-se de tudo o que há
o que pulsa
Pulsa?
Aqui

Querer
Estar em paixão
E você também
E sonhar juntos uma realidade
E viver juntos um sonho- como se nada mais restasse
[como o é
Ser Poeta
Ter um Ser Poeta
[ser um Ser poeta

O que a vida reserva?
Um rio sem afluentes
(e, o que é pior, perene)
Um livro nunca lido
Metáforas perdidas no horizonte outrora almejado

Ontem, manga: linda, mas podre
Hoje, folha: caída, perdida no vento.

Talvez Kafka explique.

nenhum

um e outro
um no outro
um ou outro
um outro

Ao vivo

Liga-se a TV. É impressionante como aquele quadrado fixo em minha sala faz-se inúmeros. Transforma-se diante de meus olhos no passar das horas, em qualquer “canal”. O seu “transformar-se” decerto (ou a priori) não é o mais inoportuno, o pior é o “transformar-me”...
Onde há informação há pessoas, todo discurso é construído para alguém, mesmo que esse alguém seja si mesmo. Mas esse não é o caso da televisão. Tudo o que é mostrado na TV é intencionalmente formulado ao alcance de certo objetivo, ninguém ali dialoga consigo mesmo, daí a importância do chamado telespectador. O tal escuta/lê/vê o que se é mostrado na comentada tela; continuadamente, não importando se há compreensão, intriga ou questionamento por parte dos sentidos tocados por já citadas informações. Mas tudo bem, pode-se mudar a freqüência ou, simplesmente, desligar o aparelho. Mas as perguntas continuam... Eu posso:
a)conformar-me com as hipóteses mostradas durante a transmissão da informação;
b) esquecer, pois não entendi nada mesmo;
c) esquecer, pois mesmo entendendo o que se passa não faz diferença;
d) tomar um antiácido, pois entendi tudo, discordo com quem formulou a informação, não tenho como rebater os argumentos e agora estou com azia;
e) nenhuma das anteriores.
Conformar-se e esquecer: não. Por quê? Olhe ao seu redor, pode ser até mesmo pra TV que você acabou de desligar; ligue-a novamente e olhe-a. O que vê? Pessoas. Sim, e são muitas. Apesar de não as conhecer posso me ver em cada uma delas, ou enxergar nelas outras a mim mais próximas.
Outra tarde vi o filho que não tenho assistindo a um programa de auditório às 13h da tarde. Me vi na mãe dessa criança. Mulheres semi-nuas encenavam sexo explícito em coreografias de músicas de brega e forró em um palco cercado de jovens (alguns/mas menores de 14 anos). Com tal contextualização, a aparição de um dos mamilos (ou ambos) que subitamente “pulava” do minúsculo traje utilizado pela bailarina durante a apresentação não foi o mais chocante. Depois disso, ao tornar-se por mim conhecida a gravidez de uma jovem com 12 ou 13 anos de idade, estaria agora, quem sabe, um argumento formulado que justificasse tal ocorrido?
Há noites tenho sido uma criança. Não aquela da situação acima descrita, outra. Uma menina que vê seus pais saírem ao trabalho, cheios de força, em busca da realização de seus tão elaborados sonhos. Eu não entendo o que eles fazem, mas me sinto segura porque confio neles. Talvez eu ainda não saiba - talvez apenas o tempo responda isso, sou tão pequena... - mas os meus pais não são de todo responsáveis pelo rumo de nossas vidas. Sei também que não os escolhi, mas indiferente a esse fato, continuaria a acreditar neles, pois eles são meus pais; não por eu ter nascido deles, não por eu ter características físicas deles, mas pela falta de estranhamento que sinto quando sou física ou psicologicamente remetida a eles, pelo confortante sentimento que nos envolve... Isso me deixa imensamente feliz.
Meu país tem problema, mas é meu país. Muita coisa está acontecendo, é inegável. Muitos lutaram e deram tudo, mais ainda- se deram- por esse país; acreditaram, sofreram, mudaram. E é justamente por essas pessoas (muitas delas ainda vivas), por outras tantas que carregam a força daquelas, por mim mesma, pelos meus que estão aqui e também por aqueles que, quem sabe, estão por vir, que eu afirmo: acredito.
Sim, estou com azia, palpitações, dores de cabeça... Mas nenhum paliativo me atenuará a atual angústia do diário encontrar de respostas manipuladas por indivíduos que parecem ser órfãos de pátria e mantêm todo o país como fantoches num show ao vivo televisionado. Não podemos simplesmente desligar a TV e é um despautério assistir a tudo sentado. Como a televisão nada me dizia resolvi escrever. Espero que algum leitor reconheça minha voz... Ou reconheça-se nela. E me dê uma resposta, ao menos me deixe ouvir também sua voz...

Saturday, October 29, 2005

VIVER

Viver...
É como acordar numa das primeiras manhãs de janeiro e ter que recolher-se em casa por causa de uma torrencial chuva que ferve a água do mar.
É como fazer uma longa viagem, mas que independente se de trem, carro ou avião, sempre em pé... a pé...
É voar sem ter asas
É comer sem ter fome
É dar sem nada ter, ou ter sem nada dar
Es darse
Na vida há de tudo, por isso todos a têm.
Há os que têm muito, mas não há os que não têm nada – estes, ainda que nada, têm...
E há os que são muito, os que se fazem de muitos pra ser um tudo na vida de outros... de um alguém... de todos.
É aí que estás.
Mil faces; mil jeitos; mil atos; mil olhares; mil traços, trajetórias e transações; mil sentimentos... um só coração... Mil mundos aí dentro.
Decerto, tuas marcas não circulam em nossos sangues - teu ventre nunca de abrigo se fez- mas és tu a materialização da força maior que nos une e incentiva o consentir, continuar e concluir deste ocorrer indecifrável ao qual chamamos vida.

eles

Se sentires os olhos embaçar ao abri-los
E veres outra, que não eu
Fecha-os novamente.

Penses em mim.

Essas lembranças conterão o teu pranto
E te farão procurar os meus toques (nela)
Meu ventre pulsante
Meu colo ofegante
Meu corpo destemido a te envolver.

Mas não.

Chega de sentimentalismo de esquina
Em qualquer rua há uma, ao menos
Nada de procurar brilho perdido em outros olhos - o dos meus é o bastante

Assim foste, e nunca mais voltarás.
Também fui, e nunca mais serei
estou
sinto
?definitivo em existo

Pra que palavras - mediações simbólicas da linguagem
Pra que sentimentos - instrumentos mediadores da alma
Descaracterizo-me como ser
não mais sinto
Mas ainda assim existo
E insisto em (me) encontrar
E as palavras não respondem - amontoam-se...
convulsões.

Escovo os dentes
Sai de minha boca


Busco por ar
Entra em meu corpo


Olho-me no espelho
Vejo-o nos meus olhos

Perco-me em fugas no tempo
Renasço no hoje sem ele

Comigo, novamente e só.
Refaço-me mais forte, até o próximo ato no tablado de meus sonhos

Molho minha boca em outros lábios a fim de esquecer o gosto dos dele
E em outros copos a fim de me esquecer...
abstrações.

DeSnOrTeAdA

Comunoja

Una hoja cayó del árbol y voló, se perdiendo
Y ganó el mundo
Se cambió en polvo
Su morada, el universo
Su destino, el acaso
Su color, el tiempo
Y los rasgos que carrega, sus peleos
La luz que la toca (enrigiese) sus estructuras
Y roba su maleabilidad
Y la solidifica
Y la torna fácilmente quebradle
Duras formas, pocas ganas
Interminable vida
formas ganas vida
vida sin ganas
formas sin vida
vuela hoja vuela